Sábado eu passei na Levi’s do Bh Shopping para experimentar um par da calça da Levis 501, e fiquei impressionado com o tanto que a cintura está baixa.
Eu não sei se é uma diferença de modelagem do Brasil, mas realmente achei bem mais baixa do que a minha 501. É impressão minha ou a economia de tecido está rolando solta? Até a calça dos ternos dos corporativos da Savassi estão cinturinha baixa.
Enfim, o 501 é o clássico dos clássicos e o primeiro jeans inventado na história, mas nem sempre foi o mesmo. Essa abaixada na cintura não é a primeira mudança ao longo dos anos.
As primeiras calças Levi’s eram feita de um tecido chamado “duck canvas” em um marrom alaranjado (uma lona de algodão bem grossa) e mais tarde com denim bruto azul. O denim acabou se tornando o mais popular entre as opções.
As primeiras calças tinham apenas um bolso traseiro e também botões para suspensório, fivela traseira na cintura, e linha selvedge na parte de dentro da cintura e na lateral das pernas (selvedge só com listra branca, sem o detalhe vermelho).
Nesta época, os rebites ficavam aparentes e o design do arco no bolso de trás era um pouco diferente. Os jeans ainda não contavam com a etiquetinha vermelha no bolso e nem com o patch de couro na cintura.
A Levi´s Vintage Clothing é uma linha especial da Levi’s que reproduz modelos históricos da calça 501, exatamente como eram no passado. Todos os detalhes, tecido, corte, aviamentos e embalagem são cuidadosamente recriados. Eu organizei a linha do tempo com as calças dessa linha, para entendermos melhor as mudanças:
A calça de 1890 foi a primeira criada depois que expirou a patente que garantia a Levi’s exclusividade para fabricar roupas reforçadas com rebites. Esse foi o ano em que nasceu o nome 501.
O sistema de numeração era para facilitar o inventário dos lojistas, que tinham mais facilidade organizando por número do que por descrição. A Levi’s já produzia uma linha completa e todas as peças eram numeradas: 501 para calças, 506 para as jaquetas, etc.
Para enfrentar a concorrencia, o tecido dos bolsos internos foi decorado com informações sobre a marca, a originalidade, e resistência das peças. Essa prática continua até hoje.
Nessa altura do campeonato também apareceu o patch de couro com dois cavalos estampados. A informação exata de quando este detalhe apareceu e de qual era oo design original está perdida nos escombros da sede original da empresa, atingida por um terremoto em 1903.
Um detalhe: a costura nos bolsos não era feita com máquinas de costura dupla e por isso as linhas são irregulares.
Em 1922 a Levi’s já havia mudado para um fornecedor de denim bem melhor, a famosa Cone Mills na Carolina do Norte.
O tecido da Cone tinha a linha selvedge vermelha, uma forma que a fábrica encontrou para se diferenciar das outras empresas (a Lee costumava usar o selvedge amarelo). Antes de 1922 os jeans não tinham a linha colorida, só um acabamento branco.
Este jeans era um pouco mais pesado do que os anteriores e já tinham o pedaço de couro clássico, agora com a numeração carimbada.
A calça 501 de 1922 reflete uma mudança de hábito nos homens. Ela a primeira a vir com passadores para o cinto, além dos botões de suspensórios e fivela.
Sabiam que marca Levi’s só foi registrada em 1927? Antes disso toda calça jeans era chamada de Levi’s. Nesse ano, a etiqueta começa a ter um detalhe diferente, o ® ao lado da marca.
A calça de 1933 também tinha cinto e suspensórios. Este é o modelo mais largo de todos os 501, refletindo a moda de 1930.
Uma curiosidade interessante é que escondido embaixo do retalho de couro estava uma etiqueta branca que só era visível depois que o couro começava a encolher. A etiqueta tinha uma águia branca e as letras NRA, que era o ato de recuperação nacional. A Levi’s tinha o direito de incluir esta etiqueta por ter adotado as regras trabalhistas impostas pelo presidente Franklin Roosevelt durante a grande depressão.
Duas mudanças importantes no jeans de 1937. Primeiro, a etiqueta vermelha apareceu no bolso de trás como uma nova forma de separar a Levi’s dos competidores. A segunda, é que os rebites nos bolsos traseiros ficam cobertos pelo tecido, uma solução para não arranhar os móveis.
A costura era mais larga nas extremidades para contornar o metal dos rebites e os bolsos vinham com um encarte de setas que apontam dizendo “os rebites ainda estão aqui”.
Os botões de suspensório também foram embora, mas ainda eram vendidos como opção para ser colocada na hora. Os homens aderiram de vez o uso de cinto.
Agora é a vez da fivela traseira sumir, junto com os rebites no gavião e no bolsinho pequeno para relógio.
O jeans de 1944 tem umas diferenças porque na época a Levi’s teve que reduzir a quantidade de metal no produto por causa da guerra e passou a reforçar os pontos onde os rebites ficavam com “bar tacks” (um tipo de costura).
O arco no bolso de trás passou a ser pintado ao invés de costurado, supostamente para economizar algodão. O jeans também era mais leve,para economizar matéria prima na produção do tecido.
19947 é um ano importante para o 501. Agora a calça tem todas as características modernas. A etiqueta vermelha no bolso de trás, cinco bolsos, sem suspensório, sem fivela, sem rebites no gavião e com cinto.
A diferença da calça para hoje em dia é que o retalho na cintura ainda é de couro (com dois cavalos) e a etiqueta vermelha tem a palavra LEVI’S toda maiúscula (hoje a letra “e” é minúscula).
O jeans era mais slim do que os modelos pré guerra. Na foto, ele parece bem apertados mas não era tanto assim. A numeração da LVC exagera a diferença de propósito para refletir a maneira como as pessoas estilosas usavam. Era comum ver as pessoas comprando calças um número menor, basta olhar fotos de motociclistas, por exemplo.
O jeans de 1954 é um pouco mais ajustado, talvez para refletir a moda após perceber que as pessoas preferiam seus 1947 mais justos.
Foi na época deste jeans 1954 que a Levi’s começou a vender jeans na costa leste dos Estados Unidos. Até então ela só vendia do outro lado.
Muita gente já conhecia o jeans mas para muitos a calça ainda era uma novidade, principalmente o fato do fecho do gavião ser com botões. Para resolver esse problema a Levi’s lançou uma versão com zipper, a 501Z. Era a mesma calça, mas com zíper ao invés de botão.
Poucas mudanças no jeans 1955… a etiqueta vermelha no bolso de trás agora é dupla face e parece que o patch couro na cintura foi substituído por uma imitação de couro.
Outro detalhe interessante é que o passador do cinto não ficava centralizado na parte de trás da calça. Provavelmente era para facilitar a costura, que passava a linha por um ponto mais fino do jeans.
Falando em jeans, foi nos anos 50 que esse tipo de calça começou a ser chamada assim. Antes, os “jeans” eram “overalls”.
Muitas escolas da costa leste baniram os estudantes de usar jeans nas aulas. Elas diziam que apesar da calça ser apropriada para uma escola do “wild west” em São Francisco, não eram de bom gosto nas escolas da cidade. A proibição acabou tornando o jeans um símbolo de rebeldia da juventude.
Grandes mudanças na 1966. Os rebites dos bolsos traseiros foram embora, substituídos por tachas. A garantia dos dois cavalos também foi embora do retalho de couro falso, e algumas costuras são de nylon preto ao invés de algodão.
Quando a Levi’s cobriu os rebites todo mundo achou que o problema das mobílias arranhadas ia desaparecer, só que não. Com o tempo de uso e desgaste do bolso, o metal resistente aparecia novamente. As tachas foram uma solução resistente e mais achatadas.
Essa modelagem é mais justa e também tem a cintura bem mais baixa do que a de 1955. A perna é chamada de “cenoura” porque afina na panturrilha.
A principal mudança das calças no final dos anos 70 foi a etiqueta vermelha no bolso de trás que mudou de LEVI’S® para LeVI’S®.
Do jeito que estão nas fotos eu gostei bastante do corte do 501 de 1890. O problema é que ele só tem um bolso e vem com os botões para suspensório e a fivela atrás. Outros favoritos são os de 1944 e de 1955 por causa da cintura.
Eu acho que este foi a última calça da linha principal feita com tecido “shrink to fit” não sanforizado. As pessoas precisavam comprar uma calça maior e depois lavá-la para obter o caimento ideal.
Além do menor impacto ambiental, esse pano deixa o processo mais divertido e possibilita um caimento modelado de acordo com o corpo de cada um. A prática é colocar a calça molhada e deixar ela secar no corpo, pois dessa forma o tecido se conforma melhor ao invés de encolher igualmente em toda a sua extensão.
Esse método ainda é usado em algumas calças especiais da Levi’s, e muitas marcas de réplica e reprodução também utilizam tecidos assim. Todas essas modelagens que eu mostrei acima também podem ser compradas na linha especial da Levi’s.
Se você estiver a fim de comprar uma versão retrô feita pela Levi’s Vintage Clothing, eu preparei um guia de numeração da calça 501.
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É possível encontrar no Brasil jeans com esse detalhe da costura na parte inferior ,dentro ?onde possibilita dobrar a barra e aparecer o detalhe.desde já agradeço!
Oi Alexandre. Não consigo te dizer com 100% de certeza, mas eu acho que não. Esse detalhe se chama selvege. Tem a ver com a maneira que o tecido é feito. É um detalhe que sempre aparecia nos jeans antigos, que eram feitos em teares lançadeira. Esses teares são bem mais estreitos, tem consumo de algodão maior e o tempo de produção também. As máquinas mais fazem o tecido de outra maneira, e as extremidades do tecido ficam abertas recebem uma costura de acabamento (a que aparece na maioria das calças). Até existem máquinas modernas cabazes de fazer mas também tem um custo mais alto.
Aqui tem um pouco mais de informação. Eu preciso atualizar, porque é um post antigo, mas no final dele tem um link para o site Raw Denim, que fala bastante sobre isso: https://www.soqueriaterum.com.br/2012/09/25/jeans-bruto-e-jeans-selvedge/
Prezados Senhores, (as)
Eu tenho a calça Levi's 505, contudo, não vejo diferença da Levi's 501!
Acho um tecido excelente, calça regular, ótimo corte, além de ser muito linda.
Estou muito satisfeito com a compra!