Eu admiro muito algumas marcas de botas. Elas motivam minha vontade de elevar a qualidade das botas brasileiras. Uma dessas marcas é a Red Wing Shoes e agora eu vou te contar porque.
Quando foi fundada a Red Wing Shoes?
Em 1905, um vendedor de sapatos chamado Charles Beckman percebeu uma aumento na demanda por botas de trabalho e montou uma fábrica junto com 14 investidores. Seu objetivo era fazer botas melhores do que as que estavam no mercado.
Assim surgiu a Red Wing Shoe Company, com a missão de fabricar e vender botas duráveis e confortáveis. O nome e o logo são homenagem à cidade, que tem o nome do índio que liderava os habitantes originais do território ao redor do rio Mississippi.
Como era a primeira bota da Red Wing?
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A work boot original da Red Wing era feita em couro e tinha cadarço e fivelas para ajustar o calce. As botas eram (e ainda são) produzidas em parceria com o curtume S.B. Foot Tanning, que opera desde 1887. Hoje ele pertence à própria Red Wing, que desenvolve seus couros especiais.
Foi com essa bota, em Red Wing, Minnesota, que a marca deu seu primeiro passo. A fábrica rapidamente se transformou em uma grande fornecedora de calçados para os trabalhadores industriais, principalmente entre as minas de ferro locais.
A qualidade do produto logo gerou interesse nacional, e a marca logo se tornou uma das mais populares dos Estados Unidos.
Fotos da fábrica Red Wing original
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Primeira Guerra Mundial
A produção de botas seguiu forte na fábrica Red Wing até acontecer a Primeira Guerra Mundial. Por ordem do governo americano, toda a produção de botas passou a ser destinada aos calçados militares.
Foi nessa época que a marca acabou desenvolvendo alguns coturnos que mais tarde inspiraram botas clássicas como a Red Wing Iron Ranger, feita para mineradores.
O pós guerra gerou um boom na economia americana e nas atividades industriais, aumentando muito a demanda por calçados de trabalho.
A Red Wing começou a desenvolver botas específicas para cada atividades, lançando modelos para fazendeiros, para plataformas de petróleo, garimpeiros, e várias outras ocupações.
Mais do que o estilo, a qualidade sempre foi o diferencial, como vemos nos primeiros anúncios:
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Pós Guerra: A década de 1920
A década de 1920 foi incrível para a economia dos Estados Unidos. O retorno da normalidade depois da guerra trouxe um crescimento industrial sem precedentes, com aumento acelerado da demanda dos consumidores e mudanças no estilo de vida. Tudo parecia ser viável através da tecnologia… os automóveis, cinema, rádio.
O logo alado da Red Wing apareceu pela primeira vez em 1928, assim como uma bota infantil para os aventureiros mirins. Essa bota tinha um bolso lateral para canivetes e virou uma campeã de vendas.
A marca seguiu crescendo, acompanhando o ritmo acelerado do país. A idéia para uma outra bota que é famosa até hoje também apareceu nessa época. Olhe bem os catálogos e anúncios abaixo e repare em um modelo com costura no bico, estilo “moc toe”.<
E veio A Grande Depressão
Se a década de 1920 foi maravilhosa para a economia dos Estados Unidos, a Grande Depressão deixou claro que a década de 1930 seria muito difícil. Foi tão ruim que os lojistas começaram a devolver os pedidos para as fábricas, sem conseguir pagar.
A contração da economia quase acabou com o mercado de botas, e a Red Wing respondeu com a produção de botas mais baratas. Lançaram a No. 99 Boot, que nunca apareceu nos catálogos oficiais. Ela era vendida por 99 centavos (o que seria mais ou menos 15 dólares hoje em dia), enquanto que o preço médio de uma bota barata em 1920 era $2,95.
Foi em 1934 que a Red Wing lançou a sua primeira bota com biqueira de aço, inaugurando uma nova era na segurança do trabalho. Os anos 30 também viram o aparecimento do estilo Engineer Boots, que são botas sem cadarço para motociclistas.
Outra inovação para manter a fábrica produzindo e combater a crise foi a venda móvel (mobile shoe service), onde a própria Red Wing levava os sapatos e botas até as fábricas, atendendo os clientes sem intermediários.
Red Wing na Década de 1950
A década de 1950 foi incrível para a marca. Foi no final dos anos 40 que eles lançaram a linha Irish Setters, e as botas “moc toe” 877 e 865. Irish Setter é uma referência ao cachorro Setter Irlandês, que tem o pelo da mesma cor do couro das primeiras botas dessa linha.
A bota de cano mais alto foi vendida como calçado esportivo (caça, hiking, pesca) mas foi sucesso entre os fazendeiros. Esse produto foi um sucesso global, ajudando a marca a se estabelecer na Europa e plantando uma semente para o futuro boom no Japão.
Outras novidades foram as botas Pecos, lançadas em 1953. Esse modelo combinava durabilidade e conforto com o estilo das botas country. Os solados também ganharam um upgrade, com um outros outro modelo chamado Super Sole, que tinha a sola presa ao cabedal através de um processo que prometia durabilidade e conforto bem superiores.
De lá pra cá
A marca Red Wing continuou crescendo e expandindo as suas vendas globais. Durante sua história ela nunca foi muito fashion, mas se tornou um clássico que calçava trabalhadores e famílias ao redor do mundo. Sempre foi muito querida e respeitada nos Estados Unidos, graças a política de produção local e foco na qualidade.
Estamos em 2015. Muita coisa mudou em 110 anos, mas a qualidade por trás de cada par de botas continua a mesma. Em mais de um século de história conseguiram achar maneiras de se manter competitiva sem precisar seguir o padrão da indústria mundial, que é diminuir a qualidade e aumentar a produção.
Apesar de ter globalizado sua operação, mais da metade das botas Red Wing ainda são feitas nos Estados Unidos, com materiais e componentes locais, contando inclusive com o próprio curtume, que é o mesmo desde 1905. A tecnologia e os requerimentos dos ambientes de trabalho pesado mudaram, e a Redwing seguiu em frente com botas mais modernas sem deixar pra trás o passado.
As principais botas da Red Wing são utilitárias, mas eles tem uma linha muito legal chamada Red Wing Heritage, dedicada aos modelos retirados do arquivo histórico. Essa linha nasceu através da Red Wing Japão, que tem um enorme mercado apaixonado pro coisas vintage, principalmente jeans e botas.
Mais ou menos em 2008 ela foi integrada à operação global, e os modelos começaram a aparecer nos pés dos antenados ao redor do mundo. O principal motivo foi a crise americana, que de certa forma impulsionou o desejo por bens duráveis e confiáveis, impulsionando produtos locais e marcas com muita história, já que o futuro era incerto.
A linha heritage mantém seu olhar no passado. O que um dia foi uma bota para trabalho pesado hoje é perfeita no guarda roupa de qualquer um. Mas não se engane. Até mesmo as botas e sapatos dessa linha casual são feitas para durar, toda de couro e com construção goodyear welted, mais ou menos que nem aquele diagrama de 1934 aí de cima.
Quem já calçou sabe que é diferente… a bota é forte, teimosa, precisa ser submetida ao uso para mas depois vira uma companheira fiel. Não são botinhas de bailarina, calçam como botas, e é daí que vem a durabilidade ao longo dos anos.
A longevidade da marca e de seus modelos prova que a verdadeira qualidade do produto (até onde o cliente não vê) e a satisfação dos clientes nunca saem de moda.