Eu nunca entendi muito bem a proposta da marca Von Dutch, e foi só recentemente que eu descobri sobre Kenny Howard, gênio autodidata pai do pinstripingo, verdadeiro dono deste nome. O livro Von Dutch: The Art, the Myth, the Legend conta alguns detalhes sobre a vida dele, que vamos ver de forma resumida aqui neste post!
O cara viveu muito antes dessa linha de roupas e acessórios, que ameaça destruir a credibilidade do seu nome, existir. Artista, mecânico e metalúrgico habilidoso, customizava veículos e fazia suas próprias facas e armas à mão. Von Dutch tinha uma forte aversão ao dinheiro, pois sentia que seria prejudicial para sua arte, tornando a existência de uma empresa que usa seu nome para vender todo tipo de produto, uma ironia do destino ainda maior.
“Faço questão de me manter à beira da pobreza. Todas as minhas calças tem pelo menos um furo, e o único par de botas que tenho está no meu pé. Não mexo com coisas desnecessárias, então não preciso de muito dinheiro. Eu acredito que é para ser assim. Há uma ‘luta’ pela qual você tem que passar na sua vida, e ganhar muito dinheiro, isso não faz que essa ‘luta’ desapareça. Só torna tudo mais complicado. Se você continuar pobre, a luta é simples. “ Von Dutch
Nascido em 1929, Kenneth Howard, mais tarde conhecido como Von Dutch, foi o homem que transformou o pinstriping em arte, customizando motocicletas e automóveis. Ele recebeu esse apelido por causa da teimosia (“teimoso como um holandês”, é uma frase popular).
Mais do que teimoso, ele foi aquele artista excêntrico clichê. Egoísta dentro de sua própria visão, alienando família, amigos e clientes. Em parte romântico, em parte beatnik, em parte um pé no saco, era racista e uma prima donna. Conseguiu quase todos que o admiravam, e de alguma forma nesse processo, fez com que o admirassem mais.
BODY STRIPER MUNDIALMENTE FAMOSO “ESCONDIDO” NO SUL DA CALIFÓRNIA (Tradução da reportagem abaixo):
Striping, seja em motocicletas ou em carros, era uma forma de arte morta quando Von Dutch, aos 15 anos, foi trabalhar na loja de motocicletas de George Beerup em meados dos anos 40. Seis ou sete anos mais tarde, era um negócio próspero realizado por várias centenas de pessoas, e nenhum Hot Rodder que se preze consideraria a personalização de um veículo como completa até o pinstriping terminar.
Poucas pessoas percebem que o striping, até hoje, é totalmente artesanal. Na fábrica da Triumph, por exemplo, um senhor idoso que parece estar na empresa há um século, passa o dia colocando as faixas de acabamento nos para-lamas e tanques de combustível com as mãos. O mesmo é verdade na fábrica da Enfield…e na fábrica de Rolls Royce.
O último striping manual de automóveis americanos foi feita pela General Motors em 1938 (excluindo, é claro, carrocerias especiais criadas posteriormente). Então, quase 20 anos depois, os clientes jovens trouxeram ele de volta à moda com alguns designs bizarros, muitas vezes acreditando que estavam fazendo algo totalmente novo. O homem que começou essa moda foi um jovem mecânico de motocicletas chamado Von Dutch.
Hoje, Dutch está “escondido” devido à reputação que construiu. Trabalhando como mecânico mais uma vez, ele faz trabalhos ocasionais de striping em um para-choque ou tanque para um amigo. Mas ele nos fez prometer não identificar a loja onde trabalha, porque “não quero nenhuma criança por aqui tentando me obrigar a destruir seus carros”.
Caso você tenha interesse por pinstriping e o trabalho destes artistas, a Amazon tem alguns livros e guias práticos que parecem muito interessantes!
VON DUTCH PINTA SEM NENHUM PLANEJAMENTO. ELE FEZ ESSE TRABALHO EM APROXIMADAMENTE 10 MINUTOS, FALANDO CONSTANTEMENTE COM O FOTÓGRAFO JIM SULLIVAN (Continuação da reportagem…)
Aos 15 anos, Von Dutch era o que ele chamou de “o gunk boy” na loja de motocicletas de George Beerup no sul da Califórnia quando ele levou uma das motocicletas para casa, pintou e listrou com os pincéis de seu pai. O velho Von Dutch tinha feito algumas striping em motocicletas e trabalhava principalmente como pintor de placas. Quando trouxe a moto de volta, Beerup se recusou a acreditar que ele mesmo havia feito a arte. Então ele pegou os pincéis e fez outro trabalho. Assim que Beerup viu o que podia fazer, tirou Dutch do trabalho mecânico e o colocou na pintura e striping, e na década seguinte ele construiu uma reputação que não queria.
“Sou mecânico acima de tudo”, diz ele. “Se eu pudesse, seria um armeiro, mas não há trabalho suficiente para ganhar a vida. Gosto de fazer coisas de metal, porque o metal é para sempre. Quando você pinta algo, quanto dura? Alguns anos e depois acaba. “
DUTCH SOBRE SEU BEBÊ, UMA SCOTT 1930 600 cc (Continuação da reportagem…)
Nos anos seguintes, Dutch trabalhou somente com pintura e striping de motocicletas, indo de uma loja para outra, “saturando cada área”, diz ele. Em meados da década de 1950, ele ainda não havia tocado em um carro, mas havia pintado e listrado milhares de motos. Depois de um ano ou mais construindo sua reputação.
“Listrar carros começou como uma piada quando eu trabalhava na loja de motocicletas de Al Titus em Lynwood”, disse Dutch. Então a ideia cresceu. Ele foi contratado para realizar alguns trabalhos personalizados para um dos salões de automóveis, onde foi abordado por um homem conhecido como o Árabe Louco que achou que poderia transformar o trabalho em uma ocupação de tempo integral. Dutch não acreditou, mas tentou, e pelos três anos seguintes trabalhou até que “quase ficou louco”.
Quando Von Dutch parou de pintar por volta de 1958, seus talentos ainda eram muito procurados. Clientes em todo o país tinham ouvido falar dele, e os carros vinham da Costa Leste para serem listrados. Além disso, quando o dono de um carro o procurava, ele não dizia a Dutch o que queria: apenas quanto tempo estava disposto a comprar. Os designs eram tão selvagens e extravagantes quanto sua imaginação excêntrica. Ele tinha centenas de imitadores, e quando você ia a uma oficina para perguntar sobre esse tipo de trabalho, não perguntava se eles sabiam fazer striping, você perguntava se sabiam “Von Dutch”.
Apesar disso, Dutch nunca ganhou dinheiro com striping, porque dinheiro é algo que ele odeia, por mais heterodoxo que pareça. Após cerca de um ano construindo sua reputação, ele dobrou sua taxa horária apenas para eliminar alguns dos clientes. A jogada não funcionou. Não importa o quanto ele cobrasse, ele ainda fazia um trabalho melhor por menos dinheiro do que qualquer concorrente.
Ele poderia ter cobrado muito mais. Ele poderia ter cobrado $ 20 por hora e se safado facilmente naquela época. Além disso, ele poderia ter feito seis ou oito carros por dia, se realmente quisesse trabalhar. Mas o holandês está desprovido da força motriz que motiva a maioria dos americanos. Ele não poderia se importar menos com os bens materiais.
“Faço questão de ficar na ponte da pobreza. Não tenho uma calça sem furo e as únicas botas que tenho são as que estou usando. Não tenho nada mais para colocar no meu pé. Eu não gasto dinheiro com coisas desnecessárias, então não preciso ter muito dinheiro. Eu não preciso disso. Eu continuo o mais pobre que posso e apenas me dou bem. assim. Eu acredito que é assim que deve ser. Há uma luta pela qual você tem que passar na vida, e ganhar muito dinheiro não faz com que a luta desapareça. Apenas torna tudo mais complicado. Se você se mantém pobre, a luta é simples. “
“É por isso que nunca cobro demais de ninguém, ou não tornei esse negócio em algo comercial. Você não pode fazer um bom trabalho se estiver pensando no aspecto do dinheiro o tempo todo. Para mim, o trabalho é importante.”
A maior parte do trabalho personalizado de Dutch agora é feito exclusivamente em motocicletas antigas pertencentes à loja onde ele trabalha. A loja não tem um departamento de pintura, mas um colega da Carolina do Norte, que sabia aonde ir, enviou-lhes um tanque e pára-lamas de um Triumph novo para serem pintados, e Dutch fez o trabalho.
A motocicleta pessoal de Dutch é uma Scott Twin 1930, com motor refrigerado a água de dois tempos que a maioria dos entusiastas de motocicletas nunca tinha ouvido falar. Quando algo se desgasta, ele mesmo fabrica a peça. Ele também tem um Honda customizado, do qual diz: “Tive de pintá-lo para poder encontrar. Há tantos por aí que o meu estava se perdendo na multidão”.
Toda a vida de Dutch é mais ou menos dedicada ao individualismo, a se expressar. Ele diz que não pode mais aceitar o trabalho de pintura como uma dieta constante, mas depois que inicia em um projeto, não pode parar até que sua imaginação se esgote. Ele pega o metal comum e o transforma em uma arma de sua própria concepção. Ultimamente, ele começou a gravar desenhos em pára-lamas de alumínio.
Parece não haver fim para suas aptidões criativas, apesar de sua recusa em usá-las com fins lucrativos. Um de seus colegas de trabalho o chama de “aquele idiota artístico”, mas de muitas maneiras ele é o Einstein do mundo motorizado.
Ele morreu em 1992, deixando duas filhas. No final, estava bebendo muito, escondido em um velho ônibus municipal de Long Beach. Durante anos, ele morou no museu chamado Movie World, Cars of the Stars e Planes of Fame em Buena Park, Califórnia. Havia se tornado paranóico e passava muito tempo pintando facas e armas, além de carros.
Não é à toa que as filhas, Lisa e Lorna ficaram felizes ao vender os direitos de reprodução das imagens de seu pai para Michael Cassel em 1996. O fabricante de roupas de surf fundou uma empresa chamada Von Dutch Originals em 1999 e abriu uma loja na Avenida Melrose um ano depois. Ele contratou um homem chamado Tonny Sorensen, que por sua vez contratou o designer Christian Audigier que havia trabalhado para Diesel e Fiorucci. A ideia de Casel era explorar o mercado hot rod; mas Sorensen e Audigier visavam a um público mais amplo e fashion.
O mundo da arte encontrou seu caminho para a cultura automotiva por meio de artistas como Robert Williams, que trabalhou com Ed “Big Daddy” Roth antes de transformar seu talento pinturas. Em 1993, uma exposição chamada “Kustom Kulture” no Museu de Arte de Laguna ajudou a iniciar o processo de descoberta de Von Dutch pelo público em geral. Ainda assim, foi preciso perspicácia, sorte ou ambos para ver que Von Dutch poderia ser bem, explorável. Celebridades como Britney Spears e Justin Timberlake e Ashton Kutcher apareceram usando os bonés da marca. Todo o apelo, é claro, estava em explicar quem foi Von Dutch.
Se você já conhecia o trabalho do artista, ou se interessou em saber mais sobre a vida e a arte de Von Dutch, eu recomendo o livro Von Dutch: The Art, the Myth, the Legend. Agora, se você realmente se empolgou e ficou com vontade de aprender mais sobre pinstripe e como customizar carros, pode começar com How-To Airbrush, Pinstripe & Goldleaf, Herb Martinez’s Guide to Pinstriping ou How to Design and Apply Automotive and Motorcycle Paint and Graphics