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Tom Waits, ou como criar um ponto de distinção que diz: “não sou genérico, sou eu”

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O estilo de Tom Waits, homem da voz metamorfa de sujeito que ao longo da vida foi repetidamente atropelado por um caminhão carregado de uísque e cigarros é semelhante à sua música, uma continuação de algumas tradições, desgrenhadas a ponto de causar estranheza. Como o som que ele faz, não atrai a todos, é quase impossível replicar, mas dá para fazer um bom cover.

Tom Waits da primeira fase era sobre a melodia, baladas e agiotas, pianinhos e prostitutas. Na segunda fase, abriu a caixa de pandora da loucura. Muniu-se do blues, do rock, do funk, do vaudeville e de todos os géneros esquecidos para fazer as músicas mais esquisitas e fascinantes. Na terceira fase, ele aprimorou detalhes, como um relojoeiro maníaco capaz de aterrorizar as pessoas normais.

A cabeça do cara parece ser uma constante procura de novos sons, ritmos marcados, melodias inesperadas, harmonias loucas. Com o tempo, ele se tornou menos óbvio. Se tornou ainda mais Tom Waits. Não sou nenhum especialista, mas olhando para a história da música popular não me ocorrem muitas pessoas que tenham, durante tantos anos, desafiado tanto e com tanto êxito os limites daquilo que consideramos “música”.

Nessa história toda, na música e nas roupas dele, é complicado traçar a linha entre o que é autêntico e o teatro. Em 1984, Glenn O’Brien perguntou ao cantor qual era a diferença entre ele e sua personalidade. Waits respondeu: “Eu acho que é a diferença entre uma deposição e uma discussão” (link para a entrevista com Tom Waits)

Ok, essa resposta é um pouco vaga, mas o que quero dizer é que a partir de um certo ponto ele se tornou um performer altamente profissional, consciente de que um concerto ao vivo é uma peça, uma arte de contar histórias com recurso a som. Isso ilustra bem o papel que a roupa tem para muitos de nós quando estamos em nossa melhor apresentação sartorial. Elas são uma representação verdadeira de quem somos, mas comunicam uma versão ligeiramente melhorada de nós mesmos.

Waits foi fotografado inúmeras vezes ao longo de uma longa carreira. Ele sempre foi um tipo meio analógico em um mundo cada vez mais digital, algo que lamentou na entrevista de 1984, quando o mundo era muito mais analógico do que hoje. É difícil imaginá-lo sem um caminhão enferrujado ou janela quebrada por perto. É como se ele vivesse dentro de um filtro do Instagram, sempre inclinado, relaxado, olhar desconfiando da câmera.

O cantor disse uma vez que quando criança, queria ser um veterano, já que eram os únicos com grandes histórias e roupas legais. Ele gosta de coisas antigas e estranhas. Muitas vezes, vestiu uma mistura de alfaiataria garimpada e clássicos do colarinho azul, como camisetas brancas, jeans desbotados e jaquetas de couro. Tinha quase sempre um chapéu na cabeça, na maioria das vezes trilbys e boinas de paperboy.

A estética combina o estilo do músico de jazz no meio do século, a atitude beatnik e as peças que se obtêm de trocas com mendigos. Num recente editorial do New York Times com Tom Waits, Beck e Kendrick Lamar, apenas ele foi fotografado em suas próprias roupas, sem personal stylists. Isso já diz muito (link para a reportagem)

Então, o que a gente pode aprender com Tom Waits? Músico e notório esquisitão, ele pode se safar vestindo qualquer coisa, roupas esfarrapadas de tamanhos errados combinadas de um jeito que nós nunca imaginaríamos. Acho que é essa mistura do chamativo e o literalmente básico que é tão bacana.

Então, crie o seu ponto de distinção, algo no seu look que diz “não sou genérico, sou eu“. Algo como o chapéu ou as botas de crocodilo do Waits. Não precisa ir muito longe nem exagerar, basta escolher algo bonito, perfeitamente você, mas um pouco esfolado e ligeiramente re-contextualizado em seu guarda-roupa.

Para finalizar, deixo aqui o meu convite: Comenta aí com a sua música favorita do cara.

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  • São tantas que é difícil não parecer um herético. Mas "The Piano has been drinking." do album Small Changes e "Misery is the river of the world" de Blood Money são as que escolho agora.

Publicado por
Lucas Azevedo
Tags: tom waits