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Um dia em Malmö: Café, Trés Bien Shop e Sapatarias

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Malmö , na Suécia, fica a meia hora de trem de Copenhague, capital da Dinamarca. É a terceira cidade mais povoada da Suécia, o que não é muita coisa, já que são menos de 300 mil habitantes. O centro é movimentado, mas a cidade é bem pacata comparada com Estocolmo e Copenhague, vizinha da qual ela virou uma espécie de subúrbio, graças a facilidade e flexibilidade das viagem na Europa.

Sai da Dinamarca cedo para passar um dia em Malmö. O passeio atravessa o Oresund pela ponte-túnel, com uma vista muito bonita. Os trens saem de 20 em 20 minutos e a passagem custou mais ou menos 15 dólares. É só ir até a estação principal de Copenhague, comprar o ticket na máquina ou no balcão, e aproveitar a viagem rápida.

Existem muitos guias na internet onde você pode encontrar roteiros incríveis para montar a sua viagem. Eu recomendo o site oficial da cidade, Trip Advisor, Lonely Planet, Visit Sweden, e Arrival Guides. Por aqui vou falar de lojas e alguns detalhes do meu dia corrido!

Vamos lá. São poucas opções de lojas masculinas em Malmö, principalmente comparado com o incrível cenário das capitais escandinavas; mas mesmo assim ela deixa qualquer cidade do Brasil com inveja, em grande parte graças a Très Bien Shop.

Fresh of the train

Minha primeira parada foi um rápido café da manhã, e depois uma voltinha pela Stortorget (praça central) enquanto esperava a cidade acordar. O comércio por lá abre bem tarde e fecha cedo, tipo 11 horas até 18 horas. Pelo número de cafés e coffebars que avistei enquanto rondava deu para perceber que assim como os mineiros, eles também levam o café muito a sério.

Stortorget – “Praça Grande”

Prefeitura de Malmo

Acabei no Solde Kaffebar, que fica ao lado do grande canal Södra Förstadskanalen e perto da Davidshalls Bron, uma ponte com estátuas dos sapatos de atores suecos famosos. Malmö é cheia destes monumentos com uma pitada de humor, como por exemplo a “Orquestra Otimista“.

O Solde só tem balcões e banquinhos, criando um espaço social bem aberto e compartilhado. Não é um Starbucks onde você senta por horas para usar a internet. De certa forma me lembra os cafés mais antigos do centro de Belo Horizonte, onde as pessoas se esbarram, apreciam os aromas, e a companhia.

19 pares de bronze na ponte Davidshalls.

A primeira descoberta foi uma sapataria com sapatos ingleses, a Rolf Hansson & Sonner Skomakeri (mais sobre eles depois). É a loja que um pai abriu e agora divide com os filhos, todos sapateiros. Além de vender sapatos e acessórios eles também fazem consertos. O fundo da loja tem uma oficina completa com uma máquina de goodyear welting.

Eu esperava pessoas frias, mas a recepção foi super calorosa! Conversamos um pouco sobre botas, sapatos, pais e filhos, blogs, e eles me convidaram para dar uma olhada nos bastidores. Observei que a Suécia, apesar de moderna, mantém alguns negócios à moda antiga. Nessa configuração “antiga” cada um faz o que sabe e se dedica exaustivamente ao trabalho específico.

Eu curto a mistura… bota, com cerveja, com barbearia, com burgueria, com garagem… mas quando eu entro em um lugar simples assim eu fico com a sensação de que a variedade serve mais para preencher um vazio do que para complementar.

Tem um texto de John Galsworth chamado The Summary of Quality que apesar de ter sido escrito em 1911 fala reflete o estado de várias indústrias modernas, entre elas a calçadista… as que todos falam que está morrendo. É a história da luta perdida, do bom artesanato contra a indústria do baixo preço. No texto o sapateiro Gessler é um homem de integridade totalmente dedicado ao seu trabalho.

O Sr. Gessler fazia botas de couro sob medida, só “o que me era pedido”. Ele queria que cada par fosse personalizado para um só indivíduo. Um dia, o narrador da história entra na sapataria calçando botas de uma marca famosa e o Sr. Gessler diz: “Eles conseguem tudo. Eles conseguem tudo pagando publicidade, e não com trabalho. Eles tiram tudo de nós, que amamos as nossas botas“.

É sensacional entrar em um espaço conceito, mas também é gratificante quando a inovação do negócio não é servir bebida, ou inovar nas redes sociais, mas sim fazer bem feito (com calma), aquilo que quase ninguém quer fazer. Tem muito pra fazer dentro do “universo” de cada um! Uma coisa que me fez pensar.

As botas e os sapatos ingleses da centenária Crocket & Jones são os principais calçados da loja.

Uma cliente buscando o sapato restaurado.

De pai para filhos: Rolf, Micke, e Björn.

Micke Hansson e Björn Hansson também trabalham na parte dos fundos que abriga uma oficina onde os dois, mais o pai, colocam vida nova nas botas e sapatos da cidade e montam alguns sapatos sob medida.

As botas australianas R.M. Williams me receberam logo na entrada. Essas chelseas são especiais porque o cabedal tem apenas uma costura no calcanhar. A estrutura é feita com um só pedaço de couro.

Além dessa sapataria eu também esbarrei em mais três na região, todas vendendo e restaurando sapatos. Em Malmo (mais ainda em em Estocolmo) eu vi muitos homens elegantes, vestidos como se fossem o próprio agente 007. Ternos azul marinho com proporções clássicas, gravatas sóbrias, lenços de bolso, e sapatos clássicos.

Bota Brogue da Cheaney na vitrine de outra sapataria que me chamou atenção. Cheaney é a marca que parte da antiga família dona da Church´s abriu depois que a Church´s foi comprada pela Prada.

Outra sapataria em Malmo, também com uma antiga máquina de Goodyear Welting.

O meu principal objetivo em Malmo era visitar a Très Bien Shop para ver o espaço físico por trás de uma dos e-commerce de moda masculina mais fortes do mundo. A loja opera o e-commerce, uma coleção própria de vestuário, uma marca de óculos escuros, e uma loja física, todos em Malmö.

Ah! Antes de chegar lá eu preciso compartilhar outra loja muito peculiar. É uma loja western com botas de Cowboy, chapéus country, chapéus de guaxinim, e outras coisas que remetem ao velho oeste americano, ou ao nosso sertanejo.

Cheguei na Très Bien e em plena sexta-feira dei de cara com uma porta fechada. Eu não sabia, mas depois descobri que eles só abrem a loja física aos sábados e domingo porque a cidade é pequena e sem movimento para o tipo de produto que eles vendem.

Na hora que cheguei eu ainda não sabia disso então dei a volta no quarteirão para ver se o Google Maps tinha errado. Encontrei outra porta que dava para a operação online, funcionando a todo vapor. Uma funcionária simpática me explicou o lance do horário e escutou a minha situação. Ela pediu um momento e voltou liberando a minha entrada. Depois de me intrometer no horário deles eu fiquei sem graça de fotografar, então não tenho muita coisa para mostrar.

A Très Bien fica em uma área grande com três divisões. Quase todo espaço é dedicado ao estoque, atendimento, e logística da internet. Outro salão amplo abriga um pequeno estúdio e uma equipe de criação. Estrutura pequena, equipe enxuta, muito trabalho e pouco papo. O terceiro, e menor espaço, é uma sala onde fica a loja física. Nada mais do que um provador, uma arara em cada lado, e uma mesa central com alguns acessórios. A maioria dos produtos não estão expostos então eles oferecem um Ipad para você ver o estoque completo através do site.

Essa loja cresceu com capital o próprio de dois irmãos e hoje fatura mais de 6 milhões de dólares por ano, com uma mistura perfeita entre o streetwear e o high fashion. Depois olhem bem o site e tentem imaginar a estrutura que falei. Não tem plataforma complexa ou grandes operações de logística automatizada. Lojas assim competem a nível global com muito pouco. O segredo é simples: ter alguma coisa realmente boa é o primeiro passo para “conquistar o mundo”.

Mostrei para Felicia o que queria depois de navegar pelo o site. Enquanto ela buscava eu conversei com o Björn, um dos fundadores, responsável pelo lado operacional. Saí de lá feliz com os novos presentes e contente por ter conhecido os bastidores de uma das lojas independentes mais legais do mundo.

Com a Felicia e o Björn, me sentindo um super VIP na loja de portas fechadas.

A minha próxima parada seria a Meadows of Malmo, uma loja focada no denim e no workwear, com pé forte no universo do motociclismo. O dia passou rápido e por isso desisti. Optei por aproveitar o pouquíssimo tempo para conhecer mais do que a cidade tinha para oferecer.

Dei um pulo rápido no Moderna Museet Malmö. Também tem um em Estocolmo então eu não fiquei muito. Aí em baixo algumas fotos do meu passeio pela cidade. Ah, para comer, eu recomendo algum restaurante ao ar livre na Lilla Torg, o NjutBar (café/deli com saladas, queijos e frios) e o Bastard (rústico, direto do forno).

A Lila Torg, ou “Pequena Praça” tem várias construções antigas bastante conservadas e várias muitos restaurantes.

Arredores da Lilla Torg, ou Pequena Praça. É a suécia do século dezesseis.

Ferrugem na Caroli Church

Pensei em Escandinávia, pensei em frio. Acho que é eles compensam o inverno rigoroso com muitas flores nas outras estações.

Uma área industrial a caminho da praia.

Caminhada até Ribersborgs.

O torso giratório. Prédio HSB Turning Torso. Fica um pouco longe, no fim da Ribersborgs. Logo em baixo tem um pier com um café bem agradável.

O pier na praia Ribersborgs, que fica a uns 15 minutos do centro.

Dica: Get a bike!

Publicado por
Lucas Azevedo