Já ouviu falar na Visvim? Essa é uma das marcas mais hypadas na história do streetwear. Os preços são exorbitantes, mas o marketing é incrível e o conceito incrivelmente interessante.
Sabe quando o consumo não condiz com a proposta? Apesar de ser uma marca de streetwear envolvida em toda a cultura do hype, a filosofia e o design da Visvim me interessam bastante.
A marca japonesa foi fundada em 2001 pelo designer Hiroki Nakamura. No começo, era uma marca de calçados, mas atualmente a Visvim tem uma coleção completa de roupas e acessórios com estética rústica, inspiração vintage e sensibilidade moderna.
Ao meu ver, o modo que a marca trabalha se resume a duas coisas: aproveitamento da enorme herança estética e técnica que existe na moda global, através de uma mente criativa aberta a novas ideias. Até onde eu sei, a base de clientes no Japão é um pouco diferente dos que consomem os calçados no mundo ocidental.
Outra característica marcante da Visvim são seus preços altos que não param de subir. Parte custos de fabricação, parte impostos de importação e parte consequência da oferta limitada, os preços fora do Japão são exorbitantes. E por isso, eu ainda enxergava essa marca de vestuário como algo gente lê a respeito na Internet, mas nunca vê na vida real.
Tudo isso mudou após a minha viagem ao Japão, onde pude visitar a flagship da Visvim e ter acesso aos preços locais, que apesar de elevados, estão bem próximo ao de marcas como Red Wing e Levi’s Vintage Clothing. Eu comprei o meu primeira produto da marca, e resolvi compartilhar minha experiência aqui.
O produto que comprei foi a Bota Visvim Virgil Folk Holiday 2013, uma versão em couro de búfalo, de um dos estilos de bota mais antigos da Visvim.
Design: Bota Visvim Virgil Folk Holiday 2013
As coisas precisam evoluir, mas também é preciso conservar as boas coisas que às vezes são eliminadas como se fossem ruim só por causa da busca obsessiva pela novidade. O que a Visvim faz muito bem, é justamente desenvolver novidades a partir do que existiu de bom no passado.
O sapato mais famoso da Visvim é outro, o FBT. Uma mistura de mocassim nativos americanos com tênis de corrida. O cabedal é feito a com a verdadeira construção mocassim, que o indígena americano utilizava no passado porque é extremamente confortável. Naquela época, a sola de couro por falta de opção. A versão moderna vem com um estabilizador no calcanhar e uma sola Vibram mais adequada para pisar em concreto.
No exemplo acima, Hiroki Nakamura combinou uma técnica simples que nunca deixou de funcionar e o que temos de moderno para melhorar a usabilidade. Hoje em dia a estética do FBT pode parecer batida porque existem várias “cópias”, mas já se passaram décadas desde que a Visvim o lançou pela primeira vez.
O design da Visvim Virgil que comprei também carrega essa mesma mistura de passado com o contemporâneo. Você sabe que adoro as minhas botas Red Wing Iron Ranger, mas o visual delas é pesado e retrô. Quando alguém calça, cai automaticamente na estética workwear clássica. Concorda?
A bota Visvim Virgil Folk tem construção robusta e o cabedal de uma bota de trabalho tradicional, mas os detalhes deixam o produto muito mais visualmente leve e moderno. Você pode usar tanto com um estilo clássico quando com um estilo streetwear.
Na foto acima eu estou usando com um Century Denim da Kapital (outra versão criativa de um clássico). Na minha opinião, elas deixam a jaqueta N1 menos literal, menos cosplay de soldado veterano.
Construção da Bota Visvim Virgil Folk
A combinação de todos os elementos formam uma bota que ninguém mais faz. Você encontra muita moc toe igual a Redwing por aí, mas não encontra versões com a cara que tem a Visvim. Parte do preço, vem de não ter ninguém mais fazendo.
Outro motivo para o valor das botas são os materiais e a fabricação. A Visvim é hand welted (construção goodyear welted sem utilizar máquinas). A vira é de couro é costurada ao cabedal e uma espessa palmilha de montagem de couro, e em seguida é presa a uma sola de couro por uma linha encerada bem grossa. Em seguida, a sola Vibram de múltipla densidades é colada nessa sola de couro, e costurada no bico com a mesma linha (e a mão também).
Por baixo da palmilha de montagem (entre a sola e o cabedal) ainda existe uma camada de cortiça. E por dentro, no calcanhar, ainda tem uma meia palmilha de couro cobrindo uma outra camada de cortiça.
A cortiça era muito utilizada até que com o tempo, e produção em massa de botas, foi sendo substituído por palmilhas removíveis de espuma ou EVA. As palmilhas modernas são mais macias, mas a cortiça tem algo que elas não tem: ela vai se moldando ao seu pé, e ao contrário das palmilhas de espuma, não perdem o acolchoado. Melhoram com o tempo.
As costuras, os ilhoses e todo o acabamento são impecáveis. O detalhe da língua costurado e pintado à mão é bem charmoso. O formato da bota segue a linha workboot mas tem o bico agradável pra caramba.
Solado Vibram Customizado
O solado dessa bota é o mais confortável entre todas as botas que tenho. É uma sola Vibram com dupla densidade feita especialmente para a Visvim. Repara no símbolo da marc, a cruz cobrindo toda a sola!
As duas densidades tem maciez e dureza diferentes para a bota ser confortável (a parte macia que parece um colchão) e durável (a parte de baixo, que é mais dura). É um pneu com excelente suspensão. Com certeza botas muito confortáveis, misturando o design clássico com o conforto possível graças à tecnologia de hoje.
O couro de Bisão
O couro da bota é de bisão. Ele tem é bem encorpado e mais resistente que o couro de vaca. Outra diferença, é que os grãos são maiores e a marcas das fibras ficam mais visíveis. Elas acentuaram o acabamento marrom avermelhado e o resultado é uma coloração rica cheia de variações nos tons de marrom.
Estou curioso para ver como ela vai ficar depois de usada.
Numeração e como fica no pé?
Pra finalizar, porque não pode faltar em nenhuma review: A numeração é normal!
Eu gosto demais dessas botas! Não só porque acho bonitas, mas porque foi me remete a ida ao Japão, os círculos que rodei para encontrar a loja, e a sensação de vitória quando vi o preço bem mais barato. Apego vem de usar e de memórias, e você pode construir isso com qualquer bota que tem.
O produto não precisa ser caro ou maravilhoso. Se for bonito e fizer sentido, você vai usar. Se você usar muito, vai aproveitar bastante! Quem sabe ele vira o vintage do futuro. Mais do que indicar um produto caro, é essa sensação de apego que tentei compartilhar.
Durabilidade e envelhecimento
Resolvi atualizar a review agora que já usei a bota.
E olha que já usei bastante, viu? Foi comprada em 2014 e estamos em 2018.
Reparem a espessura do couro (pela língua da para ver bem), a textura granulada da pele de Bisão e as variações de marrom
Dica para comprar
Eu comprei essa bota numa fase bem específica. Mesmo com o preço reduzido no Japão ela ainda é mais cara do que várias botas muito boas que vão atender qualquer pessoa normal mais do que bem.
Se você pesquisar um pouco sobre a marca e curtir. Tiver uma grana sobrando e achar bem legal o estilo das botas Virgil da Visvim, eu recomendo arrumar um jeito de comprar através de algum serviço de entrega ou loja direto no Japão. Comprar em sites e lojas dos EUA e da Europa joga o preço lá em cima!
Aquele abraço, e não esquece de seguir no Instagram para ver mais dicas de como usar esse tipo de bota masculina!
Sabe onde podemos comprar estas botas aqui no Brasil?
Oi Leonardo.
A distribuição da Visvim é extremamente limitada fora do Japão.