Uma das minhas roupas favoritas é essa hunting jacket tingida com índigo natural pela Blue Blue Japan, marca especialista em tinturas naturais e a estética do boro japonês. Eu gosto principalmente de como misturam a visão ocidental com peças orientais clássicas. Nesse caso, é um casaco de caça feito em um tecido típico japonês.
Os produtos da Blue Blue Japan são um maravilhoso exemplo de colaboração entre o artesanato japonês e a história sartorial do oriente, como também faz tão bem a Kapital com o seu Century Denim.
“Hunting jacket” é uma jaqueta de caça tipicamente americana. A característica marcante é o reforço no ombro para acomodar o riflee um bolso traseiro para levar a presa abatida.
Sashiko é um tecido tradicional dos trajes de várias artes marciais por causa da durabilidade. A tintura azul com índigo natural faz parte da história de várias culturas.
Na interseção dos dois vem a tintura com índigo natural. O corante envelhece com o tempo e uso, ganhando nuances únicos. Junto com a textura do tecido, forma uma dupla incrível! A roupa vira sua, “cresce” e muda, até finalmente ficar velha.
Não é de hoje que as pessoas admiram a cor e os efeitos do índigo no tecido. A tintura parece ter sido desenvolvida por várias culturas ao longo da história. Os antigos egípcios tingiam de azul as roupas e tecidos que embalsavam os faraós. Os chineses como um corante de vestuário, e civilizações da África e no Oriente Médio também.
Vamos explorar essa trajetória e conhecer algumas marcas que mantém essa tradição viva!
História do Índigo
O índigo é um corante antigo e existem evidências de sua extração a partir da planta Indigofera no terceiro milênio antes de cristo e possivelmente muito mais cedo através das folhas da planta-do-pastel .
Um exemplo muito citado são as faixas azuis encontradas nas bordas dos tecidos que cobrem as múmias egípcias datadas de aproximadamente 2400 aC. Outro exemplo é uma tabua cuneiforme de 600 aC encontrada na Mesopotâmia com uma receita para tingir a lã de azul imergindo e arejando repetidamente.
O exemplo mais antigo de índigo já encontrado foi um fragmento de tecido de algodão que foi tingido há 6.200 anos com a cor indigo. O tecido encontrado no Peru, é o mais antigo decorado com a cor, que até hoje é complicada de produzir naturalmente.
Quanto ao nome, ele provavelmente vem do Vale do Indo, da Idade do Bronze (3300 -1300 aC). Esta é a maior civilização antiga conhecida e no seu auge abrigou mais de 5 milhões de habitantes. Arqueólogos recuperaram sementes de pelo menos 4 espécies diferentes do gênero Indigofera no local e também recuperaram restos de tecidos tingidos de azul.
A palavra “índigo” tem suas raízes em indikón/indikós (ινδικόν), que significa “índio”, ou “Indiano (corante)” em grego. Embora a fonte original do corante seja incerta, foi a partir daí que os gregos e romanos provavelmente descobriam o produto que ficou conhecido como índigo para o mundo oriental.
É incrível como o processo foi descoberto independentemente em várias partes do mundo!
A raridade da cor e o trabalho para produzir o corante fez dele uma opção apenas para as elites. Por muito tempo, o índigo foi conhecido como “ouro azul”, a cor dos faraós e da realeza, em todo o mundo.
No Egito antigo e na Europa Medieval ela foi muitas vezes ligada a poderes percebidos e simbólicos. O índigo é um elemento de purificação, e até mesmo anti-bacteriano, em várias formas de medicina tradicional.
A cor azul que lembra o mar e o céu é com certeza o aspecto mais admirado, mas o processo de oxidação quase mágico na produção deve ter sido parte do apelo também. Segurar um novelo de lã e observar a cor passar de verde para um azul profundo deve ter sido tão maravilhoso no passado quanto é hoje.
Além da raridade, a produção do corante também demandava muito trabalho. As plantas precisavam ser cultivadas, colhidas, tratadas e fermentadas. São muitas variáveis e qualquer coisas podia dar errado a qualquer momento.
Infelizmente, grande parte da magia é perdida nos relatos de trabalho em fábricas de índigo. O índigo, como qualquer especiaria preciosa de tempos passados, deixou marcas tristes por todo o mundo.
Durante séculos o indigo natural permaneceu uma potência econômica até que em 1897, o alemão Adolf von Baeyer desenvolveu a opção sintética. O sintético trouxe vários benefícios. Os processos de fabricação foram padronizados, e grande parte da adivinhação envolvida na produção natural desapareceu. No início de 1900, o índigo natural começou a sair de cena.
Um detalhe importante para você manter na cabeça é que quando a opção sintética foi lançada os tintureiros resistiram bastante pois preferiam as peculiaridades do material natural, com suas as impurezas e até mesmo odor.
A repentina acessibilidade barata levou à utilização da cor no tingimento de vestuário de trabalho padrão. Exemplos famosos são as jaquetas de trabalho francesas, o tecido wabash e as calças jeans Levi’s.
Mas a disponibilidade sintética jogou o índigo para o mesmo patamar de outros corantes e a versão fabricada começou a seguir na mesma direção do antecessor natural até ser salvo pela surpreendente azul na moda que popularizou a calça jeans após a segunda guerra mundial.
Um século depois de seu lançamento no mercado, o índigo sintético continua em demanda constante para tingir mais de um bilhão de pares de jeans por ano.
Depois de milênios de uso, quase todo o índigo utilizado e produzido no mundo é sintético. Depois de um século de monopólio nascido em laboratório, os corantes índigo naturais estão voltando em certos nichos.
Os principais responsáveis por esse retorno são micro fabricantes de jeans em busca de um retorno às raízes e artesãos encantados com a imagem de velhos tintureiros manchados de azul, mergulhando tecidos em tonéis borbulhantes.
As peculiaridades queridas pelos tintureiros do século 19 são as mesmas características que os consumidores modernos interessados no índigo natural valorizam. A história se repete, e o índigo parece destinado a nunca desaparecer.
Marcas conhecidas pelo trabalho com Índigo Natural
A marca que me vem à cabeça quando penso em índigo é a Blue Blue Japan.Como o nome diz, a Blue Blue trabalha com azul indigo. Outras que usam bastante este tipo de tingimento e tecidos como o sashiko e os retalhos boro, são a Porter Classic, a Dr Collectors (eu visitei a loja em Los Angeles) e a Kapital.
Outras marcas de destaque são a Story Mfg, Orslowo e a Tender. Uma que descobri a menos tempo, e também faz um trabalho muito legal, é a Natic Marine. O indigo natural também é usado por marcas de jeans como Pure Blue Japan, Momotaro, Iron Heart, 3Sixteen, Rogue Territory e outras que trabalham com o denim mais artesanal.
Atenção: uma característica bem comum em produtos tingidos com a planta – principalmente os mais escuros – é a perda de coloração com o tempo e a variedade de tons. Dependendo do tecido, é comum ficar com a mão azul depois de colocar ela no bolso, por exemplo.
O indigo natural é mais caro do que o sintético, e isso aumenta bastante o preço por metro de tecido. O sintético é necessário para produção em massa, pois é preciso uma colheita enorme para produzir tinta suficiente. Não tem como atender a demanda do mercado com produtos naturais sem regredir para exploração de mão de obra.
Mesmo assim, é uma coisa bem simples, sustentável em pequena escala, e principalmente muito bonita pelos detalhes e sutilezas na coloração. Para quem consome uma moda mais lenta e aprecia produtos “com alma”, é perfeito.
Esse é um editorial da revista Free & Easy sobre tintura com índigo natural e umas personalizações.
Espero que tenha gostado dessas curiosidades sobre a cor mais famosa da moda masculina. A diferença entre o corante sintético e o natural é que um é bonito quando novo e o outro fica ainda mais bonito depois de usado! Se você quiser acompanhar a evolução dessa jaqueta e de mais algumas roupas tingidas dessa maneira, segue lá no Instagram!