O tipo de sapato masculino que tenho usado com mais frequência é o penny loafer. O que torna este calçado único, é a tira de couro sobre a parte superior do cabedal, normalmente com um corte em formato de diamante no centro. Este detalhe foi apenas um recurso de design, mas ele veio a calhar anos depois, quando o apelido “penny loafer” surgiu.
Se você ainda não tem um penny loafers, já passou da hora de incluir um em sua coleção. Esses sapatos, que já eram clássicos muito versáteis, se tornaram ainda mais companheiros neste novo normal, onde recomenda-se remover os sapatos em casa. Eles podem ser facilmente usados em ambientes casuais e também nos momentos onde você precisa estar mais bem vestido.
O modelo é uma criação do sapateiro G.H Bass. Em meados dos anos trinta, ele lançou o sapato em Maine, nos Estados Unidos, chamando-o de Weejuns. A história é que o estilo foi inspirado por um calçado usado por agricultores noruegueses (norwegians).
No entanto, em 1926, a Aurlands já havia lançado Aurland Mocassin, por sua vez inspirado pelos tradicionais mocassins dos iroqueses dos Estados Unidos. Ou seja, pelo que parece, os Estados Unidos inspiraram os Noruegueses que depois inspiraram os Estados Unidos.
A principal diferença entre o estilo da Aurlands e o da Bass, são as costuras rústicas na lateral. Este detalhe, torna a versão “original” Americana mais casual do que a “original” Norueguesa e reflete a tradição calçadista daquela região dos Estados Unidos, que é conhecida pela construção mocassim.
Muitos acreditam que o nome “Penny Loafer” surgiu porque o recorte no centro da tira que fica na parte superior do cabedal servia para guardar moedas de um centavo (penny) caso fosse necessário fazer uma chamada de emergência de um telefone público.
Esta teoria foi derrubada, sendo apenas uma lenda urbana, porque os telefones públicos americanos nunca aceitavam pennys (moedas de um centavo). Uma origem mais aceita, é que era uma questão de estilo para os estudantes americanos nas universidades da Ivy League, que durante os anos 1950, colocavam moedas no centro do sapato.
De um calçado estritamente casual, o modelo ganhou popularidade também em situações mais formais, sendo frequentemente usado por ícones do estilo, artistas e intelectuais. Lembre-se que, até meados da década de 1950, os homens passavam a maior parte do tempo vestindo ternos. Um sapato como o penny loafer, era algo bastante casual, até mesmo rebelde em certas situações.
O penny loafer se tornou uma característica fundamental no uniforme de Wall Street durante os anos 80, quando o estilo Ivy League passou por uma reformulação que ficou conhecida como “preppy” e ganhou uma conotação negativa. A sua versão em couro preto ainda é considerada apropriada em ambientes de negócios em muitas culturas, como o Brasil, Estados Unidos e o Japão.
De forma mais abrangente, o penny loafer faz parte do estilo casual americano, que alguns chamam de “americana”, outros de “ivy” ou “trad”, mas que são jeitos de se vestir considerados mais casuais para a época, sendo esta na minha opinião a maior contribuição dos Estados Unidos para moda masculina.
Hoje, todas as imagens acima aparentam uma certa formalidade, já que nosso modo de vestir se tornou ainda mais descontraído e variado, mas até os anos 1960 não era comum vestir calça jeans, camisas oxford button down com ternos, ou penny loafers. À medida que a moda masculina ia se tornando mais democrática, casual e esportiva, peças que eram consideradas estritamente causais, aos poucos, foram ganhando espaço.
Uma das coisas que admiro no penny loafer é sua versatilidade. Em couro liso preto, ele é uma opção bastante elegante com um terno de lã escura. O mesmo modelo em camurça marrom funciona igualmente bem com seu jeans favorito.
No Brasil, é comum ver sapatos sem cadarços vestidos com terno em ambientes de negócio ou eventos formais. Também é normal ver loafers com bermudas ou calça no final de semana, sendo os mocassins estilo driver ou docksiders os mais comuns.
Existem muitos estilos diferentes de penny loafers. Alguns preferem as versões italianas elegantes com bicos alongados ou uma construção simples para tornar o sapato o mais macio e flexível possível. Eu prefiro a tradição britânica mais tradicional com uma construção um pouco mais firme, e um cabedal estilo americano com o bico ligeiramente mais curto e arredondado.
Como com a maioria das roupas masculinas, os detalhes fazem a diferença. Existe o penny loafer clássico americano, que é mais arredondado e pode ter costuras “beef rolls” nas extremidades da tira de couro. A “língua” é mais curta e o pé, ou a meia, ficam mais expostos. A costura mocassim, que une as duas partes formando o bico, é real. Este tipo de penny loafer é uma opção mais casual.
Existem também aqueles penny loafers mais refinados. Eles tem bico mais alongado, forma mais fina e a costura na ponta do cabedal pode ser apenas decorativa. A língua é mais alta, cobrindo o máximo de superfície do pé. Em alguns casos, não há nenhuma costura aparente na extremidade das tiras. São detalhes para deixar o sapato um pouco mais elegante e formal, apesar de não chegar ao mesmo nível de um oxford ou derby.
Na galeria de imagens acima, o penny loafer à esquerda (marrom mais escuro) tem a silhueta alongada com o bico fino e uma costura mocassim falsa. A língua cobre bastante o pé. É um sapato relativamente formal, que poderia ser perfeitamente usado com um terno azul marinho em várias situações. Já os sapatos ao meio, são um meio termo, e na direita, temos um penny loafer bem casual com costuras rústicas.
A diferença pode ser notada nas fotos acima. Na esquerda, William Holden veste um terno cinza de ombros macios e corte americano “sack suit”. Na direita, Cary Grant veste um smoking com um penny loafer mais elegante. Se você inverter os calçados, eles não funcionariam tão bem.
Quanto mais arredondado/curto/alto for o bico, mais casual o sapato. Quanto mais alongado e baixo, mais elegante costuma ser. As solas grossas são menos formais, e quanto mais claro o couro, e quanto mais textura tiver, mais casual ele provavelmente é. Para completar, preste atenção nos detalhes: as costuras rústicas são mais despojadas enquanto acabamentos discretos, são mais elegantes.
Calça jeans, uma camiseta lisa e tênis é sem dúvida um ótimo look casual. Mas e se você substituísse seus tênis por um penny loafer? Você vai se surpreender com o quanto a troca do calçado consegue elevar a sua roupa para outro patamar.
4 dicas gerais ao usar penny loafers com jeans:
Você pode combinar seu jeans com camisas e jaquetas em materiais menos formais, como o algodão oxford cloth, chambray, sarja de algodão e camurça. Se o objetivo é deixar a combinação elegante, mas sem a rigidez de um traje corporativo, você pode experimentar paletós esportivos feitos em tecidos com textura, seguindo as mesmas dicas deste texto sobre como usar blazer com jeans.
É possível variar entre diversos penny loafers em diferentes cores e texturas de couro até encontrar o par perfeito. Um sapato em camurça marrom claro combina muito bem com jeans mais claro, e um mais escuro casa perfeitamente com jeans em um tom de azul mais escuro.
Eu gosto de pedir ao sapateiro do bairro para colocar uma fina camada de borracha na sola de couro do meu penny-loafer Guido, que além de preservar o solado, deixa ele com melhor aderência para nossas calçadas cheias de buraco e até mesmo piso molhado.
A minha combinação favorita é a com um jeans de perna reta ou calça chino e jaqueta jeans. Contudo, você também pode usar o penny loafer com trajes mais formais, como calças de alfaiataria e paletó ou até mesmo um terno.
É um look mais formal, mas não tão formal como seria com um sapato oxford. Eu gosto bastante, mas apenas quando o formato do penny loafer é agradável e cores escuras como marrom escuro, vinho ou preto. A combinação fica mais descontraída, adicionando um toque mais casual.
Como eu falei antes, procure prestar atenção no tipo de penny loafer que vai combinar com roupas mais formais. Nas fotos abaixo, o primeiro penny loafer é, na minha opinião, muito casual para usar com gravata e paletó (além do caimento das roupas não estar nada legal). Na foto do meio, o penny loafer parece bem parecido com o anterior, mas eu já acho que funciona. A calça chino está mais relaxada no corpo, e o blazer de algodão tem detalhes casuais, além de estar sobre uma camisa de colarinho button down sem gravata. Todos esses elementos são mais despojados. No entanto, a foto à direita, é para mim a que funciona melhor!
Os calçados nacionais, normalmente, perdem muito em qualidade na construção e materiais (principalmente as botas). Infelizmente, não é preconceito ou puxa saquismo de estrangeiro. No entanto, o penny loafer pode ser uma exceção!
Esse tipo de sapato costuma ter construções mais simples, como a blaqueada, que é muito comum por aqui. Em termos de couro, ainda ficamos um pouco atrás, mas a flexibilidade de couros mais fracos pode ser uma vantagem. Aqui do lado, temos também os vizinhos Argentinos que mandam muito bem e possuem couro de primeira!
Os melhores penny loafers que você encontra no Brasil são do tipo casual. Eles não deixam nada a dever, em termos de aparência, para os Argentinos e Americanos.
Gostei muito das opções que a da marca Jacometti, e listei todos eles neste link com penny loafers brasileiros. Em segundo lugar, estão os penny loafers da Bastianini, com o bico um pouco mais baixo. Ainda casuais, mas com a silhueta um pouco mais alongada, você encontra boas opções da Anatomic Gel. Separei algumas outras opções aqui nessa lista de loafers brasileiros, com links para onde você pode comprar.
Fora do Brasil, existem algumas opções que você consegue importar ou adquidir na sua próxima viagem, quando essa pandemia passar! Vou listar algumas a seguir:
Se não dá para apoiar a indústria de calçado Brasileira o melhor é apoiar a da América Latina. Excelente fabricação e um penny-loafer com a cara que ele deve ter, inclusive em Shell Cordovan Argentino. A Guido agora envia para o mundo todo e eu escuto coisas muito boas de seus sapatos. O que me confundiu foram os preços no site… eu imagino que sejam pesos Argentinos, e não dólar.
Os modelos originais de penny loafers da GH Bass. Reza a lenda que os feitos nos Estados Unidos eram de tremenda qualidade, mas os modelos atuais são apenas razoáveis. A pior parte é o couor, que costuma ser muito brilhante e duro. É um design clássico e boa opção para adquirir um produto icônico.
Se você quiser um estilo mais Europeu a um bom preço eu recomendo a espanhola Meermin. Os sapatos tem preço imbatível para produtos feitos com construção goodyear welted, além de várias opções de cores e formas que vão da mais refinada à mais casual.
Existem algumas pequenas marcas de mocassim tradicionais dos Estados Unidos, localizadas na região de Maine, que fazem produtos excelentes com o estilo da Bass mas couro decente.
A Rancourt e a Quoddy usam excelentes materiais. Elas oferecem opções variadas de sola que você pode customizar e contam com variedades na construção goodyear ou na construção blaqueada. Essas duas fábricas fazem sapatos para muitas marcas então sempre que possível, compre direto na fonte!
A Espanhola Carmina, e os ingleses Crockett & Jones, são a barra de entrada para os calçados de luxo e custam cerca de $450. Feitos na Espanha ou Inglaterra, ambos excelentes sapatos. Muito bonitos e de formas mais afinadas, fugindo um pouco do original Americano. Com certeza são modelos mais elegante, perfeitos com uma calça social e até mesmo terno.
Existem poucas marcas de calçados no mundo com o pedigree da Alden. Construção goodyear welted, costurados à mão, forrados com couro vegetal, feitos de couro cordovan e garantia de ressola, esses sapatos vão durar uma vida inteira.
Edward Green abriu as portas em 1890 em Northhampton, na Inglaterra. Desde então vem fazendo sapatos de qualidade suprema, sem compromisso nenhum de qualidade em função de custos. O Picadilli é um modelo da linha “ready to wear”. Também é possível comprar sapatos da linha feita totalmente sob medida, claro que por um preço mais alto
Quando o penny loafer surgiu, era uma opção mais ou menos equivalente ao nosso tênis de hoje em dia. Sempre foi um sapato mais descontraído e casual, mas existem versões com silhueta mais alongados que conseguem ser bastante elegantes. O que não falta são opções!
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Lucas, vi em um artigo aqui (http://www.ivy-style.com/new-us-made-calf-cordovan-weejuns-due-this-fall.html) que a fabricação dos Weejuns entry-level da Bass vai "voltar" de El Salvador para o Brasil. Você já tinha visto isto? Será que eles serão feitos em Franca mesmo?
Meu Weejun é feito em El Salvador mas eu lembro de uns modelos feitos no Brasil. Acho que eles fabricam nos dois lugares. Não sei se é em Franca!
Parabens por esta análise dos penny Loafer. Seria muito interressante uma análise similar dos oxfords e wingtips.
Aguadando
Muito agradecid
Oi Eloy. Obrigado pela sugestão!
O nome penny loafer surgiu nos anos 50 a partir do hábito dos jovens de se colocar uma moeda (1 penny) no recorte da aba do sapato para depois inserir em uma jukebox. Hoje são apenas loafers, contudo o Bass continua sendo O CLÁSSICO. Tenho um preto e branco e estou atrás de outro.
Fala Washington. Você compra pelo ebay ou encontra eles por aqui no Mercado Livre ou Brechós?
Mais uma informação detalhada,parabéns!
Conhece a Pacco calçados e especificamente o produto descrito como "college americano". Sua opinião é muito útil no momento da escolha.
https://www.pacco.com.br/lancamentos/sapato-masculino-college-estilo-americano-m301mcgvin
Obrigado pela atenção.
Parabéns pelo seu trabalho. Detalhado, claro e esclarecedor. Fiquei fã. Já agora gostaria de saber se tem alguma matéria sobre o sapato "Vela".
Obrigado, Sérgio. Fico muito feliz em saber que você está acompanhando. Eu não conheço esse sapato. Qual é?
Boa noite, apareceu alguma marca de sapatos realmente boa mo Brasil?
gostei da reportagem, bem informativa