Tem uma série de jaquetas na história da moda masculina que ganharam status de ícones: a jaqueta trucker da Levis, o trench coat da Burberry, a Jaqueta A2 dos aviadores e Baracuta Harrington são alguns exemplos. Outra jaqueta que merece um lugar nessa lista é a “bleu de travail”, também conhecida como a jaqueta workwear francesa.
A linha entre as roupas que usamos porque queremos (moda) e a roupa que usamos porque temos que (uniformes de trabalho) está tão apagada quanto uma boa e velha calça jeans. Nós podemos escolher usar calças fatigue vintage ou jaquetas de trabalho francesas com camisetas, enquanto algumas pessoas vestem essas roupas todos os dias para trabalhar.
A jaqueta workwer francesa era um casaco protetor para trabalhos manuais. Hoje, ela uma ótima companheira em qualquer guarda-roupa. Unisex, confortável, versátil e resistente, não tem defeito.
As origens das roupas tem sempre uma pitada de incerteza, mas imagina-se que esse casaco tenha surgido na França, no final do século dezenove.
A tradução do nome francês, bleu de travail, significa azul de trabalhar. A expressão servia para todos os uniformes de trabalho das fábricas francesas no final do século dezenove. O termo pode significar uma jaqueta, uma camisa ou um macacão ou uma calça, mas nesse caso, estamos falando da jaqueta.
Esse tipo de vestimenta surgiu no século XIX, mas é bem comum em fábricas e oficinas até hoje.
Os casacos surgiram muito antes da jaqueta jeans, mas a ideia é bem parecida. Simples e resistentes, não tem forro nem estrutura. Você pode usar até em alguns dias não tão frios (e com certeza no inverno brasileiro).
O design é simples, com fecho de botão e bolsos grandes na lateral. Os detalhes podem variar um pouco, mas todas foram projetadas para serem funcionais e duráveis, com espaço suficiente para levar o que fosse necessário.
As originais são feitos em um tecido de algodão grosso e pesado chamado moleskine, acessível na época (e fácil de lavar). O toque desse tecido é suave, parece uma mistura de veludo e camurça.
O algodão era tingido de azul, um dos corantes mais baratos da época. A escolha não era apenas financeira, e servia para diferenciar os trabalhadores franceses de seus superiores. O workwear azul era usado pelos trabalhadores. Os supervisores ou gerentes, vestiam branco ou cinza para se diferenciar. A classe trabalhadora até hoje é conhecida como “colarinho azul” por causa disso.
As cores mais populares são o azul hydrone e o bugatti. O tom azul mais brilhante é às conhecido ‘Bugatti Blue’. Ettore Bugatti foi um fabricante de automóveis italiano. Os carros de corrida Bugatti estavam no auge na década de 1930. Na época, eles representavam o que havia de melhor na engenharia e seu design era futurista.
Uma jaqueta worker vintage original já foram mais fáceis e baratos de encontrar. Durante muito tempo, as jaquetas permaneceram relativamente obscuras, quietinhas ali dentro do seu local de origem. No recente boom do workwear elas foram pra debaixo dos holofotes. Antes, só os mais ligados no vintage procuravam o produto, e agora toda marca de moda masculina tem uma versão.
As vintage tem modelagens que variam bastante, mas geralmente são anti-fit, bem “boxy”. Essas jaquetas acompanhavam as pessoas por muito tempo, perdiam a cor, e passavam por remendos e reparos caseiros. Peças vintage com essas marcas de uso tem um aspecto único e são bastante procuradas. Alguns estilistas e marcas modernas estão reinterpretando a jaqueta com cortes e linhas atuais, uma outra opção para quem busca uma aparência mais comum.
É muito difícil encontrar uma boa jaqueta por um preço desses nos dias de hoje. A maioria das jaquetas lá fora vai custar acima de $120, e as vintage costumam passar de $200.
As vintage são tem fit mais largo, parecido com as jaquetas de trabalho modernas (que na maioria das vezes não são feitas de algodão. As interpretações de lifestyle e moda tem fit moderado, para quem aprecia o vintage sem exageros.
Vamos lá… começando pelo Brasil, tem a Dion Ochner que acabou de lançar uma jaqueta azul de sarja 100% algodão com forro de tafetá. A Worker Porto é muito legal, com alguns detalhes vintage como os rebites e a costura reforçada no bolso. Aqui mesmo no Só Queria Ter Um você encontra uma versão um pouco diferente, em sarja verde.
Muitas marcas produziram os casacos franceses originais ao longo da história, e algumas ainda estão na ativa:
Quem busca algo um pouco mais rebuscado pode caçar uma opção no reino mais fashion (com “f” minúsculo):
Na verdade, a maioria das coleções masculinas nos últimos anos fez algum tipo de referência a peça. Se o seu orçamento for bem limitado, pode ser que encontre em lojas como a ASOS, mas não vão ser feitas com tecidos tão legais (provavelmente será uma sarja normal).
Pra finalizar, a melhor opção, tente achar uma opção vintage. Lembre-se de conferir as medidas, porque não dá para confiar em informações básicas de P, M, G:
E como usar uma jaqueta workwear francesa? Como a jaqueta é bem simples não tem muito segredo para usar.
O jeito mais fácil é simplesmente tirar a sua jaqueta jeans e colocar uma french work jacket. Usa com o que você usaria com a jaqueta jeans, e pronto.
Pra ficar um pouco mais autêntico, eu sugiro uma calça jeans larga. Quem sabe uma calça fatigue verde militar, camiseta branca e um tênis de lona. Complete o visual com uma bandana vermelha no pescoço.
Você também pode usar com uma camiseta listrada e calças chino slim que fica bem legal. Um jeito simples que sai um pouco do comum da calça jeans, puxando para o náutico.
Vestir como faziam muitos artistas da década de 1980, é uma opção um pouco mais interessante. Pintores, escultores e fotógrafos, usavam bastante os uniformes do workwear. A combinação era quase sempre a mesmo: calças com corte solto (ou mais largo em cima e justo em baixo – tapered), camisetas surradas, e jaquetas de botões largos cheias de marca de uso. Roupas nunca jamais passadas, sapatos jamais polidos.
Algumas roupas que você pode usar nesse caso são calças largas, calças com cordão de amarrar, chinos desbotados pelo Sol, mocassins, sapatos de camurça, camisas sem gola (band collar), henleys, tricôs largos, camisas oxford button, túnicas, e qualquer coisa vintage. A jaqueta ficaria muito legal nas fotos abaixo, de Nicolas de Stael e Richard Hamilton, e Andy Warhol veste muito bem:
A coisa legal dessa fonte de inspiração mais artística é que ela gira em torno de roupas de trabalho, mas não da maneira “rústica”/outdoor dos barbados com cara de pensamento profundo no Instagram. A escolha de tecidos é leve e respirável, e as roupas tem modelagens próprias para movimentos amplos e confortáveis, como deve ser em uma fábrica e como eles precisavam em um estúdio.
Não tenha medo de experimentar diferentes proporções. Essas roupas workwear vintage ficam melhores quando tem alguma coisa fora do lugar. Seja qual for a sua era vintage preferida (ou seu estilo moderno) a minha sugestão é não ser literal para não se vestir como uma caricatura. É sempre uma boa idéia misturar tudo, combinando inspirações diferentes para se divertir.
Pra finalizar, seguindo a linha de não ser literal, a jaqueta worker francesa fica bem legal com roupas sociais/casuais. É uma excelente substituta para um blazer azul marinho e um jeito de vestir de forma conservadora, sem precisar incorporar um estilo workwear ou fashion. Eu gosto bastante pra falar a verdade. Pra mim, é bem mais estiloso misturar do que incorporar um estilo da cabeça aos pés:
Espero que você tenha gostado de descobrir a história de uma jaqueta clássica. Pensamos muito nos Estados Unidos quando falamos de workwear, mas a variedade de ideias é extremamente rica. A jaqueta worker francesa, ou blue de travail, seja nova ou em seu belo azul desbotado vintage, é uma aposta certa tanto para os fãs do vintage e workwear quanto para quem tem um visual clássico e elegante. Uma jaqueta casual cheia de possibilidades, para você encontrar o seu próprio estilo.
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11 agosto 2018
Boa tarde Lucas,
Estou super feliz com sua publicação... eu "só queria ter um" show, tdo a ver, sou Regina. Artesã e Costureira, moro no Rio de Janeiro, eu salvei essa matéria há muito tempo e hoje, revendo meus arquivos favoritos, quase apaguei uma pasta e pra consertar me deparei com estas relíquias... Parabéns...Valeu o dia...Obrigada...
Que sensacional, Regina. Obrigado por acompanhar! Grande abraço =)