Corrida Sem Fim é um dos filmes de contracultura produzidos no fim dos anos 1960 e início dos 1970. Embora divida opiniões quanto ao seu enredo ou ritmo, é daqueles filmes obrigatórias se você curte o combo motores V8, Hot Rods e Muscle Cars.
Enquanto apresentava o filme ao estúdio, o diretor Monte Hellman foi informado pelos executivos que a ideia seria entediante porque tudo seria filmado em um carro. Então, ele forneceu um diagrama que mostrava como ele poderia filmar 24 ângulos diferentes dentro do carro.
Antes do seu lançamento, em uma jogada difícil de entender, a revista Esquire imprimiu todo o roteiro na sua edição de Abril de 1971 antes mesmo do filme ser lançado e corajosamente declarou Two-Lane Blacktop o “O Filme do Ano”. E embora não tenha correspondido às expectativas da Universal e nem se tornado um sucesso comercial, o filme sobreviveu ao teste do tempo e se tornou um ícone cult.
Como as outras produções do gênero, revela o clima da época. O otimismo da geração flower power deu lugar à desesperança após a entrada na Guerra do Vietnã e da Coreia e os assassinatos de líderes políticos como John Kennedy e Martin Luther King. Os hippies são mal vistos e a liberdade que buscavam nas manifestações públicas agora é perseguida no sentimento de liberdade proporcionado pelas longas viagens pelas estradas americanas.
O enredo se passa principalmente na antiga Rota 66. É já na primeira seqüência de Corrida Sem Fim que somos apresentados ao peculiar universo onde a trama irá se desenrolar: um universo de motores envenenados e máquinas possantes. As locações de filmagem se estenderam da Califórnia ao Tennessee, e a gravação foi concluída em apenas dois meses gastando alguns trocados pelo padrão de Hollywood.
Nem mesmo a chuva impediu as filmagens. Na verdade, Monte Hellman credita à chuva por adicionar emoção a uma cena de ritmo lento quando os personagens chegam em Boswell, Oklahoma, no início da manhã. As coisas eram tão orgânicas no set que não havia maquiador. Os atores foram simplesmente instruídos orientados a pegar um bronze antes do início das filmagens.
A trama em si, é mínima. Como o relacionamento de personagens e como o carro customizado, contém apenas o necessário. Logo no início somos apresentados aos personagens do Piloto e do Mecânico, vividos pelo cantor de folk James Taylor e o Beach Boy Dennis Wilson. Ambos dividem um Chevrolet ’55 customizado e ganham dinheiro disputando corridas. O diretor viu uma foto de James Taylor em um outdoor na Sunset Strip promovendo um novo disco e achou que o visual seria interessante para o papel do motorista. Os dois contam também com a companhia da Garota, que conhecem em uma parada. Interpretada por Laurie Bird, aparentemente sem destino, ela resolve pegar carona com os rapazes.
Warren Oates, motorista de um Pontiac GTO, desafia o Piloto e o Mecânico para uma corrida. O personagem tem um certo mistério. Alguém que não revela tudo no primeiro minuto. Os outros são o que parecem ser. Personagens muito simples; pessoas muito simples. Talvez por isso seja o único ator experiente na trama.
É a batalha e o embate entre todos estes personagens que o filme disseca. A disputa entre o carro industrializado e o modificado com as próprias mãos serve como uma metáfora do embate entre as gerações. Vou parar por aqui para não contar tudo.
Sobre as escolhas dos carros, o roteirista Rudy Wurlitzer explica: “O GTO é o carro de consumo por excelência, uma metáfora da cultura do consumismo. É um absurdo, mas de um jeito ótimo. O Chevy é o carro do artista, feito e criado por pessoas que amam o processo de construção de um carro. ”
O Pontiac GTO do filme era da cor Orbit Orange, tinha listras laterais “eyebrow stripes” e aerofólio que normalmente tinha um Judge. O personagem GTO é um contador de histórias e habilmente descreve o motor do GTO incorretamente algumas vezes no filme, referindo-se a ele como um 455 com Mark IV Ram Air, Carter high-rise com 390 cavalos de potência.
Um (dos Chevy 1955 usado no filme) era um autêntico carro de corrida e fazia muito barulho, dificultando a gravação dos diálogos. O segundo tinha um motor menor e era mais silencioso. O último era um carro de acrobacias, então tinha um equipamento para as cenas mais mirabolantes. Talvez você reconheça o Chevy de um outro filme em que ele aparece: American Graffiti.
Como eu disse, o filme tem um ritmo diferente, às vezes desconexo, semelhante a outros filmes da época como Easy Rider. Não é para todos, admito, mas vale a pena se você curte a história de curtir a viagem mais do que o objetivo. Indispensável se você gosta de carros!