Sapatos Masculinos

Construção de um Sapato Parte II: Outras técnicas

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Um dos posts mais populares do Blog é sobre a construção goodyear welted. Hoje eu vou compartilhar algumas outras técnicas de construção de sapatos que achei interessante. Esta postagem é um agregado de informações, um resumão do que eu li. Se tiver algum sapateiro lendo, peço desculpas se trocar as bolas. Por favor deixe um comentário para eu atualizar o post.

Recapitulando: 

1. Construção Goodyear Welted: A vira é costurada ao cabedal e palmilha de montagem. Depois a sola é costurada na vira.

2. Blaqueado / Blake Stitch: Uma única costura une a sola, o cabedal e a palmilha de montagem.

3. Uma mistura. O “Blake/Rapid”: Uma costura perfura o interior do sapato e prende a sola, palmilha de montagem e cabedal. A outra fica por fora e prende a sola e a vira.

Agora vem algumas outras descobertas e diagrâmas. Eu estou tentando compreender as imagens para explicar melhor mas nada está em português. Alguém indica um livro em português? Eu não faço a mínima idéia de como são chamadas em português, mas os ingleses chamam de uma coisa, os italianos de outra, e por aí vai…

1) Norwegian / Norvogese (Norueguês):

Pelo visto essa técnica não é muito bem definida. Tradicionalmente, a construção envolve virar o couro do cabedal para fora e depois costurá-lo à sola. Alguns sapateiros usam uma vira, mas tem horas que a costura com vira é classificada como outro estilo.

A vantagem desta técnica é bloquear ainda mais a passagem da água.  Atualmente temos sapatos colados e calçadas de concreto para deixar os pés secos e os sapatos mais limpos mas antigamente as ruas da Noruega deviam ser lamacentas, cheia de poças, umidade e neve. As pessoas enfrentavam tudo isto com sapatos costurados à mão e os sapateiros da região acharam uma solução com este métodos inteligente.

Os japoneses parecem amar a técnica porque eu encontrei um monte de imagens classificando os estilos. Na terminologia que eles usam, existe a “norwegian” (com a costura lateral por baixo da palmilha), e “norvegese” (com a costura lateral diretamente na palmilha).

Também diferenciam o uso da vira como “welted norwegian”, mas esta não seria uma verdadeira norueguesa porque o cabedal não é virado para fora (ou talvez seja, e eu não estou entendendo a imagem):

Da esquerda para direita, começando de cima no sentido horário: Norwegian Construction, Norwegian Welted Construction, Norvese Construction, Reverse Welted Construction.

Ficou difícil entender qual é a diferença entre a Reverse Welted e a Norwegian Welt, que são muito parecidas na imagem: Na Norwegian Welt a costura é presa a um “canal” que é aberto manualmente na palmilha de montagem. Tem uma seta na Reverse que indica que um ponto de fixação foi inserido e colado à palmilha para segurar a costura, que é feita por uma máquina. Nesta postagem, vamos ignorar esta nomeclatura.

A Norueguesa tem no mínimo duas, e as vezes até três linhas de costura. Ao contrário da Goodyear (máquina) ou de um sapato palmilhado (welted) manualmente, os pontos destas costuras ficam aparentes ao invés de um deles ficar escondido:

Este é um diagrama da Bettanin & Venturi que também usa três pontos. O cabedal é virado para fora:

Este é um diagrama da Piergiacomi, que também usa três costuras. A técnica deles varia, pois o forro é posicionado de forma diferente:

Em todos estes casos, a característica em comum é que o cabedal fica virado para fora.

Esta construção pode ter costura trançada, mas não é necessário. Alguns sapateiros gostam de usar essa costura externa, que só pode ser feita manualmente, para mostrar a sua habilidade com a linha. Isso pode levar ao exagero mas também pode ser feito de forma elegante:

Vista de perto de dois modelos, um mais “frankenstein” do que o outro:

2) Tirolese / Norwegian Welted / Goiserer

É um nome que alguns fabricantes usam para a norueguesa com a vira. A principal diferença é que utiliza uma vira em formato de “L”, que e é colocada do lado de fora entre a sola e o cabedal. Esta construção tem duas costuras visíveis: a vira costurada ao sapato e a vira na sola. Também chamada de “Norwegian welt”, ou a construção “Goiserer” na Áustria. Seria a figura da direita na fileira de cima, naquela primeira imagem do japão.

3) Vendtschoen

A construção Veldtschoen é bastante parecida com a técnica acima. Em ambos os casos o cabedal é dobrado e costurado na sola. Se as descrições que li estiverem corretas a maior diferença é que nos sapatos Veldschoen existe uma vira por baixo do cabedal dobrado, e não por cima. Na esquerda, a “Stitchdown”, que pelo que entendi é um método simples usado por exemplo pela Clarks Desert Boots. Na direita, a Vendtschoen:

Esta outra imagem também mostra que este método “Veldtschoen” é uma versão mais elaborada do tipo de costura que a Clarks usa nas desert boots. O cabedal também é virado para o lado de fora e uma linha de costura fica exposta. Em alguns casos o couro que fica do lado de fora é amassado e aparado, deixando o sapato com a cara de um goodyear, pois uma das costuras fica escondida. A intenção também era aumentar a impermeabilidade do sapato, por isto era/é muito usada em calçados de campo e botas.

Conclusão: O termo “Norwegian”/”Norvese”/”Goiserer” parecem ser vagos. Não existe um padrão exato, e cada sapateiro tem sua versão com pequenas variações. O ponto em comum entre elas é o cabedal virado para fora, e a costura que percorre a lateral do sapato. É uma construção super resistente que impermeabiliza a bota ou sapato.

Publicado por
Lucas Azevedo